Por Laine Furtado
Em Florença, onde o tempo parece ecoar entre pedras centenárias e jardins secretos, a Gucci transformou moda em performance e desfile em poesia visual. A coleção Cruise 2026 não foi apenas um lançamento de peças — foi um verdadeiro show multisensorial, realizado no histórico Palazzo Settimanni, no bairro de Oltrarno, o mesmo edifício que guarda o arquivo histórico da maison.
O cenário era quase cinematográfico. Ao cair da tarde, os convidados — entre editores de moda, celebridades e insiders da indústria — foram recebidos em um ambiente que mesclava o antigo e o contemporâneo. A fachada renascentista do palácio, com suas paredes patinadas pelo tempo, criava o pano de fundo ideal para uma coleção que também flutuava entre o passado e o futuro.
Sem um diretor criativo oficialmente no comando — à espera da estreia de Demna Gvasalia — a Gucci surpreendeu ao apresentar um espetáculo coeso, cheio de alma e com forte identidade estética. Havia algo de Alessandro Michele no ar: o maximalismo poético, os bordados exuberantes, os volumes generosos e a paleta que parecia ter saído de uma pintura barroca. Era como se a marca estivesse nos dizendo: “ainda somos Gucci, e ainda somos inesquecíveis”.
O som ambiente — uma trilha orquestrada e melancólica — embalava a entrada dos modelos, que pareciam personagens de um sonho histórico reinterpretado pela moda contemporânea. Luzes suaves, movimentos fluidos e texturas sobrepostas criaram uma atmosfera hipnótica. Era impossível não se emocionar com o conjunto: roupa, arte, lugar e memória.
O momento não poderia ser mais simbólico. Em meio a uma queda de mais de 25% nas vendas e a pressão por resultados no grupo Kering, a Gucci aproveitou o Cruise 2026 não apenas para apresentar uma coleção, mas para reafirmar sua relevância cultural. E o fez com maestria: mostrando que, mesmo em tempos desafiadores, o poder de emocionar continua sendo seu maior ativo.
Moda é experiência. Moda é viagem. Moda é memória.
E a Gucci sabe como transformar tudo isso em espetáculo.